terça-feira, 15 de julho de 2008

Palavras

Palavras, palavras e mais palavras. O som, a escrita, tudo palavras. Tanto para dizer. Tanto por contar. Quero falar, quero escrever, quero gritar. Palavras. Quero vomitar. Palavras. Palavras que me saem pelos poros. Palavras à solta pela garganta. Pela língua. Palavras ao alto, do fundo dos pulmões. Palavras que me nascem das mãos. Palavras no bater do coração. Palavras que me inundam os olhos. Palavras de crença. Palavras de emoção. Que a minha voz não se cale. Que os meus dedos não entorpeçam. Que a tinta da caneta não se acabe. Nem a vontade, nem o ar onde circula o som. Que os lábios não se colem. Nem a boca seque e se esgote de palavras. Palavras de sentir. Quero falar. Falar alto. Escrever. Escrever grande. Palavras e mais palavras. Sem parar. É por demais evidente a minha loucura... mas, que piada se pode encontrar na sanidade?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Linhas paralelas

Não apagues a luz do tempo. Quero ver-te. Quero olhar o teu corpo nu no silêncio que impossibilita o toque. Quero sentir a tua pele na distância de um espaço vazio que aumenta dentro de mim e que nos afasta, porque me empurras. Porque tens medo do escuro no caminho diferente que se apresenta à tua frente. Não tens que ter. Porque o espaço é teu e o caminho é teu e a luz do tempo não tem que ser apagada, seja dia, seja noite e as linhas que traçamos podem não ser sempre rectas, podem não ser sempre iguais, podem não ser perfeitas, mas desde a tarde em que o céu ficou mais azul, serão sempre paralelas, como todas as cores do arco-íris que um dia nos serviu de tapete voador, como as linhas de um túnel negro e sombrio que tem sempre um fim. E depois, apenas a claridade.

Humanidade

Apenas uma vida é curta demais para ser tudo,
o que devemos ser, o que podemos ser, o que queremos ser,
porque os sonhos são sonhos, apenas enquanto não se transformam em realidade,
que corta a direito sem perguntar nada.
E as palavras e a falta e a dor,
invadem e dominam as entranhas do corpo,
profundamente marcantes do passar de cada minuto dentro dos dias.
E mesmo que chova para lavar toda a sujidade que a sabedoria da razão inventa como regra para o mundo poder girar em torno de almas hipocritamente castas,
vazias, repletas de certezas e de rumos definidos por linhas estupidamente rectas, demasiado certas, sem desvios.
E ainda que a pedra esteja gasta e polida de tanto bater dentro do peito transformado em ferro frio e ferrugento de tanta água enfrentar,
eis que surge uma gota de sangue,
ou uma lágrima, a provar que os homens também sabem chorar,
e que não esquecem o que é sentir o desejo a cravar na pele e a força da vontade a perfurar a carne,
e o fogo, por dentro, intenso, a queimar.
Pois se é isso que os faz homens,
capazes de amar.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Mudar


Sem o teu sorriso não consigo viver.
Não sei existir.
Falta-me a luz e a vontade para ser.
Falta-me a luz e a vontade para crescer.
E já não me consigo perder em ti,
não como antes, em que as palavras eram paz,
e agora, apenas lâminas a cortar a pele
que sangra a saudade à vista de todos…
E assim, sou livre de morrer no fogo final,
e ser cinza espalhada pelo vento,
em memória do que passou, vivido a cada momento.
Sem o teu beijo não consigo respirar.
Não te consigo agarrar,
se não te deixares sentir,
se não me deres nada mais do que a distância,
e o silêncio das banalidades,
ainda que nele se digam muitas mais verdades,
que o brilho do olhar não consegue esconder.
Porque afinal, algo tinha que mudar…
De que me posso então lamentar?
Se foi tudo isso que eu um dia te pedi…