quinta-feira, 26 de junho de 2008

Água (parte 2)

Quero-te regar, minha flor.
Quero crescer, sair de mim,
para te alcançar, sem pudor,
esquecer que pode haver um fim
e pintar o mundo com toda a tua cor.

Quero-te regar, minha flor.
Ver-te florescer no meu jardim,
desabrochar com vigor,
por entre o perfume do jasmim,
a revelar todo o teu esplendor.

Quero-te regar, minha flor.
Acariciar as tuas pétalas de cetim,
expor-te ao toque do meu calor,
ser o teu sol, a tua luz, porque sim
e porque és o meu amor.

Água (parte 1)

Gosto de ver chover.
Gosto das gotas de água a escorrer,
a descer pelo vidro transparente.
Sigo-as atentamente.
Invento histórias e personagens,
desenhos e imagens,
Para ilustrar todo o seu percurso,
lento, espaçado,
todo o tempo de uma vida, a descer.
Umas seguem sós todo o caminho…
Outras compulsivamente absorvem,
as que simplesmente correm a seu lado…
E algumas, naturalmente se fundem,
se amam e dão a mão…
Gosto de ouvir chover.
Gosto do som da chuva a bater no chão
e da água a rasgar a terra,
até às entranhas.
Gosto do cheiro que fica no ar,
o cheiro do molhado.
Gosto de sentir a chuva no rosto.
Gosto das gotas de água a pender,
a deslizar na pele.
Gosto de fechar os olhos
e abrir os braços para as receber,
para me diluir,
e em água me transformar,
ir por aí, a abrir rumos e atalhos,
a rasgar vales nas montanhas,
libertado,
pelos rios, a beijar as margens,
até ao mar.
E ser chuva e gotas de água a cair,
a beijar-te corpo,
a provar-te a pele.