quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pele

"Quem foi que à tua pele conferiu esse papel de mais que tua pele ser pele da minha pele"
David Mourão Ferreira

Sinto o corpo quente
Da fogueira que em mim ateias
Com o calor de mil beijos
Dos teus lábios doces de mel
Da tua língua ardente
Que explora e procura
A minha língua, incessantemente
Com a vontade de mil desejos.
Já não sei ficar ausente de ti,
Nem me fico por palavras meias
Dou asas ao que o meu peito sente
Enquanto deixo a tua pele de veludo
Escorrer-me por entre os dedos de papel
E a sorvo em tragos de intensa loucura
Dou-te tudo.
Agarro-te a mim
Agarro-te a todo meu mundo
E dói quando a noite te arranca da minha pele!
E por fim,
Fecho os olhos, suspiro fundo...
Sou bem menos quando não estás aqui

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Peço-te que...

Olhemos por mais um pouco este pôr-do-sol
Debrucemos o nosso olhar sobre ele só mais uma vez
Uma última e derradeira vez
Beijemo-nos mais um pouco antes do adeus
Deixemos as nossas línguas saborear o doce elixir da paixão
Antes que a luz se transforme numa densa escuridão
Agarremo-nos com a força de um abraço infinito
Entrelacemos as nossas almas no universo eterno da vontade
Para que cada minuto de distância seja feito apenas de saudade
Fiquemos amarrados ao leito do querer, sob o puro branco do lençol
Deixemos os nossos corpos ser um só ser, inebriado por todo este amor
Que os poros da nossa pele transpiram em salgadas gotas de suor
Entoemos as mais loucas melodias de prazer pelos céus
Esqueçamos tudo o que lá fora, em triste pranto, chama por nós
Antes que a noite nos cubra com o seu manto e nos deixe de rastos e sós
Deixemo-nos embalar no apelo sedutor de um grito
Sintamos o impulso tomar conta dos nossos gestos ousados
Para que na memória nos fique o meigo ardor de um dia termos sido amados
Entreguemo-nos à atracção dos corpos soltos, livres do preconceito
Deixemos que o seu cheiro se misture em longos suspiros de prazer
Antes que a irreversível marcha do tempo nos conduza ao anoitecer
Perpetuemos o sentimento que nos faz o coração bater dentro do peito
Sintamos o sangue a correr-nos nas veias à velocidade do desejo
Até nos desaguar nos lábios, deixando-se saborear num longo e quente beijo

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Correr

Palavras apressadas no meio da multidão,
Aliviam pouco ou nada, esta dor que vem do fundo,
De dentro do ser.
Um leve toque da tua alma, do outro lado do mundo,
Não apaga nem um segundo,
Desta minha angustiante saudade.
E o tempo teima em passar demasiado devagar,
Na esperança de te fazer esquecer...
E a noite embala-me em tons de sedução,
P'ra me convencer que não vais voltar...
Que esforço mais vão!
Porque ainda sinto o calor da tua mão,
A percorrer-me a pele, ansiosa por ti!
Mas não estás aqui...
E aperta-me o peito de tanto vazio!
Já não te consigo ver fora de mim!
Já não te consigo sentir mais longe do que um abraço!
Já não sei afastar os meus olhos dos teus e seguir sem me perder!
Quero correr!
Ainda que numa corrida que não tem fim,
Correr com a força de um bravo rio!
Correr até o meu corpo tombar de cansaço!
Correr para ti, é o que me vai na vontade!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Impulsos


"Embrace" de Deborah Howard

Dois corpos nus, despidos de preconceitos, puros, deitados na confortável frescura da areia molhada, não se conseguem largar.
(porque todo o calor de que preciso vem do sangue que te corre nas veias, ardente, e desmedido é o desejo da minha pele de sentir a tua forma de amar!)
Dois olhares presos um no outro, transparentes, brincam por entre longos suspiros de prazer, até o sol se afundar no azul do mar.
(porque o tempo insiste na sua louca corrida, entre a chegada e a partida, entre o dia e a noite, entre a realidade e a vontade de sonhar!)
Duas almas, livres, ainda ofegantes do último beijo, deleitam-se na intensidade de sentimentos, grandes demais para serem contidos dentro do peito.
(porque incontrolável é o impulso de te envolver em meus braços, de guardar só para mim cada contorno do teu rosto na ponta dos dedos e de todo o teu corpo querer beijar!)
Dois sorrisos de imensa certeza, soltos das profundidades do ser, autênticos, confessam que só na imensidão deste momento, o mundo é perfeito.
(porque a dor de te ver desaparecer no horizonte se vai tornando insuportável e as últimas palavras perdem sempre a coragem de te pedir para ficar!)