quinta-feira, 24 de abril de 2008

Renascer

A escuridão da rua, molhada pelas lágrimas que caem embaladas pelo triste pranto dos céus, esconde-se atrás do vidro baço, embaciado pela avidez das bocas, coladas em longos, quentes e doces beijos.
A usual angústia que aperta os peitos fica, por completo, do lado de fora.
A escuridão é apenas uma sombra dos corpos iluminados pela imensa luz do fogo, ardente, inflamado pela louca fricção das peles e pela ternura de contactos dóceis e despudorados.
No ar, como um aroma perfumado e confortável, paira a certeza que é chegada a hora.
Porque nas entrelinhas das palavras proferidas ao ouvido, existe um brilho único nos olhares que validam a promessa de eternidade dos sentimentos e a confissão de profundos desejos.
Porque o tudo é muita coisa e se torna possível apenas porque os dias e as noites já não suportam o vazio dos espaços e a dor da falta imposta pela distância, medida palmo a palmo, em tempo, segundo após segundo.
E presente é o momento de voltar a nascer e a crescer para sensações demasiado fortes e sinceras para serem esquecidas em impostas ideias impregnadas de irrealismo, diminuídas, despojadas de todos os sentidos, quando o que revela a coragem dos amantes é a incontrolável vontade de serem um e serem maiores e serem ilimitados.
Pois que caia toda a chuva que as nuvens consigam suportar e que o céu e os raios e os trovões desabem de uma vez sobre as vidas e sobre o mundo.
Que depois, ficam apenas as memórias e na terra limpa surge o espaço livre para o renascer dos corpos e das almas e dos sentidos, presos ao chão, a respirar o oxigénio renovado e a olhar sempre para cima, sempre mais além, a tentar alcançar o azul e todas as outras cores do arco-íris, invertido, no céu como um sorriso universal.
Porque renascer, crescer e viver tudo de outra vez, não faz nenhum mal.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Poesia... sem palavras...









Praia de Porto Dinheiro, Lourinhã, 3 de Abril de 2008, entre as 18h52m e as 18h57m

Fotografias de Sandra Sofia

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A cor do fogo

A cor do fogo,
é a cor das noites em que o teu corpo me envolve, me absorve e me consome por inteiro e as vontades se fundem numa poderosa força para crescer e ser luz para iluminar toda a escuridão, pela incandescência do amor.
É a cor das noites em que o teu perfume preenche todos os espaços da minha pele, ardendo lentamente, queimando suavemente, alimentando até ao infinito a intensidade do desejo.
A cor do fogo,
é a cor das noites em que o meu fôlego fervente, chama imensa que me nasce nas entranhas da alma e do peito, é apaziguada apenas pelo doce néctar da perdição jorrado pela fonte dos teus lábios, num longo beijo.
É a cor da manhã que anseia por ser dia, a seguir à noite em que o sonho e a realidade se confundem numa frenética dança de paixão e do sol que nasce dominado por um cansaço que só me faz querer-te ainda mais.
A cor do fogo,
é a cor do horizonte nas tardes em que o teu olhar reflecte o pôr-do-sol e os meus braços te envolvem, te aconchegam e te fixam ao chão quando o vento insiste em querer levar-te para longe de mim e o medo persiste em querer desamarrar os laços que te atracam ao meu cais.
É a cor que nos sustenta a dor, até ao momento em que céu se transforma numa imensidão de paz e a cor do fogo se mistura e se funde com o azul para ser o calor que mata todo o frio e derrete todas as dúvidas e colora o mundo com os verdadeiros tons do amor.