Podia...

Podia fixar o meu olhar no teu e deixar correr o tempo, sem pressa
Porque nele vejo tudo o que em mim vive infinitamente
Porque nos teus olhos escuros e profundos, vejo tudo o que me faz viver intensamente
E sem a necessidade de palavras, inspiro tudo o que a tua alma me confessa

Podia segurar a tua mão, na minha mão entrelaçada e nunca mais largar
Porque no teu toque sinto a força de um desejo maior, espelhada num sorriso perfeito
Porque na palma da tua mão está um mundo que, com curiosidade, eu espreito
Um mundo em que me podia perder sem nunca mais precisar de me encontrar

Quero-te mais...

Esquece tudo o que te disse até agora
Apaga tudo o que te escrevi
Todas essas palavras ficam aquém do sentimento que em mim mora
Porque, em boa verdade,
Quero-te mais do que te dou a entender
Porque quando estás perto de mim… mesmo aqui…,
Quero-te mais do que tudo o que um dia possas ser
Porque, no silêncio do meu desejo
Quero-te mais do que eu próprio posso querer
Porque, na sombra da minha vontade
Quero-te bem mais do que o meu viver
Porque, mais do que todas essas palavras, só o beijo
Te faria perceber o quanto eu te quero ter
E o porquê dos meus braços abertos para te receber

O silêncio das noites frias

No silêncio das noites frias, o sonho surge como a luz de um destino que anseia ser alcançado na brevidade de um tempo que passa devagar
As imagens sucedem-se a uma alucinante velocidade que apenas o pensamento, correndo com a pressa do desejo, consegue alcançar
Do silêncio das noites frias, surgem as palavras que devem ser ditas enquanto o primeiro instinto não caduca nas mentes,
São vozes que não se calam e que percorrem os confins da alma, fazendo-se ouvir através de bocas que procuram incessantemente a ternura de outros lábios quentes
São mensagens que se sucedem em páginas de memória, presas à eternidade pela angústia de não saber como trazê-las à realidade dos dias
Dias esses que se anunciam em rasgos de uma inevitável vontade de ser maior e saber como te contar tudo o que, secretamente, acontece no silêncio das noites frias...

Gosto muito do que se segue... Confesso que fiquei surpreendido. Pela positiva, claro.
Duarte, dou-te toda a força para continuares e lanço-te um desafio: começa a ilustrar aquilo que escreves.
Sim, porque se gostarem do que ele escreve, então deviam vê-lo desenhar...

Memórias

Memórias que guardo na cabeça
Memórias que me esforço de encontrar
Memórias de criança
Memórias de adolescente e adulto
Memórias que perco de tanto pensar
Memórias do passado que não quero encontrar
Memórias agradáveis
Memórias com muitas cores
Memórias de uma canção
De uma história
De um lugar
São aquelas memórias que aqui quero guardar
Acontecimentos tristes
Que eu presenciei
Ou até participei
São aquelas memórias que quero esquecer
São aquelas memórias que me acordam ao amanhecer

Duarte Henriques

Porque os sonhos não são só meus e muito menos as palavras, partilho o prazer que me deu ler o que uma amiga me escreveu. Obrigado Isabel.

Faço minhas as palavras
Quero fazer minhas as palavras, enrola-las na língua, engoli-las
Cuspi-las, vomitá-las.
Quero que as palavras sofram, que se acabem até não restarem mais palavras.
Quero que sufoquem, que calem que não digam nada.
Quero que as palavras se soltem, que cantem, que circulem.
Quero que as palavras saltem, se orgulhem, que se desdobrem.
Quero que as palavras se descuidem, se atropelem, se enviúvem.
Quero que cresçam no peito, que gritem, que enlouqueçam.
Quero que as palavras durmam.
Quero que se desenrolem no papel, e que se cravem como cravos.
Quero fazer minhas as palavras para dá-las, atirá-las.
Quero que sejam minhas, quero que não se esgotem, que não se estraguem.
Quero brincar com elas, afagá-las.
Quero que sejam filhas, sejam mães.
Quero que sejam tudo.
Quero que sejam palavras.
Quero que sejam minhas.

Isabel Godinho
Dezembro, 2006

O teu grito

Grita!
Chora!
Ri!
Devora!
A vida, o mundo
A vontade, o desejo
A ideia de ser feliz
Acredita!
Adora!
Aqui!
Agora!
Vive em pleno, cada segundo
A paixão em cada beijo
Cora...
Faz do Amor a tua força motriz
Agita!
Estala o verniz!
Fica ou vai-te embora!
Solta um grito profundo!
Fá-lo por ti!
Fala muito, diz tudo
Sem demora
Não digas nada e sorri
Mas... fá-lo por ti!