segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cubo

Quero sair, voar,
respirar fundo,
beijar o céu,
sentir as nuvens entre os dedos da mão,
abraçar o sol e a lua.
Quero amar por inteiro, o mundo,
admirá-lo em contemplação,
sorvê-lo em longos tragos de satisfação.
Mas prendem-me estas quatro paredes opacas,
e um tecto e um chão.
Oiço excertos de vozes do outro lado,
a minha também,
talvez.
Mas não estou lá, estou aqui.
Será aquela a minha voz?
Distingo alguns vultos do outro lado
e um deles julgo ser eu,
talvez.
Mas não estou lá, estou aqui.
Será aquela a minha figura, o meu perfil?
Falo.
Alguém me ouve?
Talvez…
Quero ver o azul do céu.
Falta-me o azul do céu,
os sons da rua:
os ruídos estridentes, os apitos,
os berros, os gritos.
Os risos…
As crianças a correr…
O toque da relva na palma da mão…
Esmurro a parede opaca,
com força.
Não parte e já me doem as nozes dos dedos.
Alguém me ouve?
Talvez sim…
Talvez não…
Nem eu sei se me oiço a mim..
Só te oiço a ti.
Por hora, está bem assim…