Porque os sonhos não são só meus e muito menos as palavras, partilho o prazer que me deu ler o que uma amiga me escreveu. Obrigado Isabel.

Faço minhas as palavras
Quero fazer minhas as palavras, enrola-las na língua, engoli-las
Cuspi-las, vomitá-las.
Quero que as palavras sofram, que se acabem até não restarem mais palavras.
Quero que sufoquem, que calem que não digam nada.
Quero que as palavras se soltem, que cantem, que circulem.
Quero que as palavras saltem, se orgulhem, que se desdobrem.
Quero que as palavras se descuidem, se atropelem, se enviúvem.
Quero que cresçam no peito, que gritem, que enlouqueçam.
Quero que as palavras durmam.
Quero que se desenrolem no papel, e que se cravem como cravos.
Quero fazer minhas as palavras para dá-las, atirá-las.
Quero que sejam minhas, quero que não se esgotem, que não se estraguem.
Quero brincar com elas, afagá-las.
Quero que sejam filhas, sejam mães.
Quero que sejam tudo.
Quero que sejam palavras.
Quero que sejam minhas.

Isabel Godinho
Dezembro, 2006