Aproximação

Quero ser mais. Muito mais. Quero ser tudo. Não consigo ser mais do que um corpo que precisa do tempo e da paz. Um corpo que se estende na margem deste rio a ouvir a água a correr pelas pedras e te olha de longe. Um corpo que toca a água fresca e pura e se aproxima lentamente do teu corpo suspenso na sua limpidez. Suspenso na tua existência, à tona de água. Quero ser tudo. Quero ser mais. Muito mais. Quase toco os teus cabelos ondulados pelo curso do leito translúcido deste rio de água fresca e pura. Na sua limpidez observo os teus cabelos ondulados atravessados pela luz do sol. Quase lhes toco. Quase toco e agarro o raio de luz que entra pela água fresca e pura, até ao fundo. Quase toco e agarro o teu corpo suspenso na transparência do meu desejo. E do teu desejo. Quero ser esse sol que atravessa a transparência do teu desejo no leito deste rio de água fresca e pura, até ao fundo, até à pedra e aquece todo o teu mundo. Ou a lua que ilumina toda a tua noite. Não consigo. Sou apenas o parco calor de um abraço que te envolve ou uma pequena luz, a chama de uma vela, que tenuemente ilumina uma pequena parte de um espaço dentro do teu peito. Quero ser tudo. Não sou ainda as palavras que anseias ouvir. Não consigo. Sou apenas as mãos que te procuram e reconhecem os teus pontos de prazer. Que te puxam para mim. Que encostam o teu peito ao meu. Sou apenas isso. Sou apenas os lábios que te beijam a pele macia e que reconhecem os teus pontos de prazer.
Quero ser mais…