sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sopro de vida

Não há uma única nuvem no céu, espelho do imenso mar que se estende muito para além de onde a vista consegue alcançar...
Porque a vista tem limites, não é como o desejo que nos nasce de dentro, nas entranhas do corpo, numa força a irromper por todos os poros da nossa pele, a querer explodir.
O sol, forte, quente, reflecte no nosso olhar o azul, esse mesmo azul que em muitas noites nos pinta os sonhos, mesmo quando os olhos ainda não estão fechados...
Porque o sono não é primeira condição para sonhar, nem a imaginação espera, seja pelo que for, para se fazer notar através das imagens que contemplamos, projectadas no horizonte distante.
Mas hoje, parecemos apenas o que, um dia, escolhemos ser...
E ainda que o momento presente seja de loucura, teimamos em prender o toque e mantemos os gestos amarrados.
Porque a vontade, Ah essa, a excitante vontade, o impulso ao primeiro contacto do olhar, é a de correr!
De ter as tuas pernas apertadas na minha cintura e os teus braços entrelaçados no meu pescoço, envolver-te e fazer todo o mundo, à nossa volta, girar!
Atentar de frente o teu sorriso aberto no rosto, repleto de contentamento pela surpresa do reencontro, contemplar todo o brilho dos teus olhos e... beijar, beijar, beijar!
Mas hoje, ficamos apenas sentados...
Lado a lado, mão na mão...
Com os dedos entrelaçados, disfarçados...
Até que por um instante, por entre os raios de luz, por uma única vez, os meus lábios podem, os teus, tocar...
Ah, esse precioso instante!
É um sopro de vida que me ofereces,
Um desejo que me concedes,
Uma morte lenta que impedes...
Sopro de vida, brisa amena soprada pelas ondas mar através das areias,
Que me aquece e me devolve o sangue às veias,
Empurrado pela força do sentir no bater do coração.
Mas também e porque mais vivo estou, mais se atiça a sensação,
E me traz uma profunda tristeza na hora de partir...