segunda-feira, 18 de junho de 2007

As horas que passaste em mim

No reboliço da cidade, um instante de paz trouxe-me a ti.
Fui conduzido por um inexplicável pressentimento que me fez andar, sem descanso. De alguma forma, eu soube que te ia encontrar.
Percorri um caminho que parecia não ter fim e ainda que, por vezes, me tivesse sentido meio perdido, não desisti.
Atravessei a multidão que, naquele dia, parecia andar em sentido contrário, como se todas as pessoas se tivessem unido para não me deixar continuar. Mas não desisti.
Abri o meu caminho com a força do sentimento, mesmo que durante o percurso, diversas fossem as vozes a chamar pelo meu nome, em sucessivas tentativas de me fazer olhar para trás. Mas não olhei, porque te queria alcançar.
E nesse dia, consegui.
Estavas parada e observavas o infinito. Aproximei-me devagar para não desviar o teu olhar, mas sei que sentiste a minha presença. O meu respirar.
Olá.
Olá. Estava à tua espera. Já não era sem tempo.
Eu sei. Senti a tua mão estendida. Nada mais quero do que segurá-la. Posso? Só por um momento…
Está bem. Mas promete que não apenas por um momento…

E iluminaste-me com o teu sorriso.
Pelas horas desse dia, as palavras fluíram com a mesma vontade que um rio de água pura tem para chegar ao seu mar.
Falámos do tudo e do nada. Falámos de nós e dos outros. De histórias presentes, de histórias passadas.
Passeámos pelo verde, rodeados pela primavera de todas as cores.
Olhámos o sol de frente, banhados pelo perfume das flores.
Sempre lado a lado. E sem resistir ao impulso, demos por nós de mãos dadas.
Os dedos entrelaçados, perfeitamente encaixados, ligaram a nossa existência. E naquele lugar, nada mais foi preciso.
Tudo estava no sítio certo. No tempo certo.
As horas passaram a uma velocidade alucinante, ao ritmo do bater nos nossos corações.
As horas passaram e a imagem projectada pelos teus olhos, eternizou-se em mim.
As horas passaram e trouxeram o inevitável pôr-do-sol. O inevitável regresso ao ponto de partida.
Olhei-te nos olhos mais uma vez, pouco antes do nosso dia chegar ao fim.
Embargaram-se de lágrimas todas as palavras que te queria dizer antes de seguirmos. E soltou-se um desajeitado beijo, na despedida.
Pouco para a dimensão do desejo. Imenso para os despertar das mais sublimes sensações.
Parti em busca do azul. O grande azul. E encontrei.
Na recordação levei as horas que passei contigo. As horas que passaste em mim.
Ainda gritei o teu nome, de peito aberto.
E do fundo da alma, uma voz suave segredou-me ao ouvido: Eu sei… e dessas horas, nunca mais me esquecerei…