segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mais dias escuros (por detrás da máscara sorridente)

[…] Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só [...]

Excerto da letra da música Velha Infância dos Tribalistas (Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Marisa Monte)

Em dias escuros, os sonhos são como o sol escondido atrás das nuvens negras, carregadas de desilusão, densas e frias.
São como percorrer grandes átrios e longos corredores, desconfortáveis, e ouvir apenas o eco solitário dos passos nas pedras mortas de salas completamente vazias.
E lágrimas são tudo o que a alma faz nascer para escorrer abruptamente pelos traços fundos da expressão e desaguar, gota a gota, em poças secas de esperança.
Em dias escuros, os sonhos são como memórias apagadas pelo passar de um tempo indiferente aos sinais de uma eterna luz de presença,
Farol na noite que se vai negando à vida, apagando-se lentamente.
Em dias escuros, deprimentes, descoloridos, a máscara mantém-se polida, intacta, cravada na pele do rosto, com um sorriso permanente.
Numa cabeça que a tudo vai acenando afirmativamente,
Encaixada num corpo que se move em sentidos predefinidos por cartilhas pensadas, criadas, instauradas, umas escritas e outras vomitadas, por mentes, de certo, muito iluminadas...
Sem grande espaço para voar, o corpo conforma-se aos caminhos percorridos infinitas vezes, sem segredos, sem aventura, sem desconhecido, sem curiosidade... sem a luz ao fundo,
Sem a vontade propagada no ar pelo impulso de um suspiro profundo.
E como a noite chega cedo, apressada e sem aviso prévio, todos os dias se tornam escuros demais para libertar as vastas e poderosas forças interiores,
Aquelas forças que, em breves momentos de transparência, fazem sentir os seres muito maiores,
Maiores do que todas as coisas inventadas que gravitam estáticas à sua volta, penduradas por correntes, presas ao mundo.
E eu, que encontrei uma luz que nem sempre consigo alcançar, uma luz forte, por vezes presente, por vezes ausente,
Não sou muito diferente.
Assisto ao passar das horas, dos dias e dos meses, sem ser grande o suficiente.
E assim, à semelhança de dias anteriores,
Tem estado escuro, hoje, por detrás da máscara sempre sorridente.