quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O meu amor saiu pela porta

Um destes dias, o meu amor saiu pela porta.
Era quase noite...
Que noite fria era,
E o meu amor saiu pela porta.
Vestia um casaco escuro...
Era um casaco preto.
Saiu com a pressa de alguém que tinha à sua espera.
A pressa de alguém que o toma como certo...
Por entre um beijo, um último beijo, na fuga,
Sem palavras, supliquei-lhe que ficasse,
Que não fosse, que me beijasse,
Com a intensa chama da paixão!
Mas foi em vão...
Os seus lábios noutros lábios, pensei...
Não...! Esta noite não!
Que pensamento mais obscuro!
Baixei os olhos ao chão...
Chorei.
Não mais olhei.
Não quis que percebesse o tamanho da dor.
Mas sei que a sentiu, que se quis voltar,
Eu sei...
Sei porque senti na pele o arrepio do seu derradeiro olhar.
Senti o peso que carregava, da vontade de ficar.
Mas não ficou,
Não podia...
Seguiu, de olhos aguados.
Teve que seguir, eu sei...
Ouvi os seus passos, lentos, pesados,
Sem estuga,
Percorrendo a pedra morta...
Senti os seus passos a hesitar...
Era eu que o estava a puxar,
Com a força amargurada do meu sentir,
Por ver o meu amor sair,
Por aquela porta,
Numa noite fria.
Fiquei a ouvir...
Por um momento, um eterno momento,
Tive esperança que parasse,
Mas não parou.
O som foi-se esvanecendo,
Desaparecendo no tempo,
O espaço entre nós foi crescendo...
Tive esperança que voltasse,
Mas não voltou.
Esperei...
...
Ainda espero, pelo meu amor...